segunda-feira, 12 de julho de 2010




Na Folhinha deste sábado (3), você confere o perfil de duas crianças guaranis, Tupã, 10, e Jeguaká, 9.

Priscila Nemeth/-

Irmãos guaranis escrevem seus contos

Conheça agora dois contos criados pelos indiozinhos:
Ojepota Va´E - A Transformação de Um Menino
Autores: Tupã Mirim
Era uma vez um índio que se chamava Verá. Ele vivia brigando com as outras crianças da aldeia e por isso nem todos gostavam dele.
Certo dia, foi até a casa de reza, que se chama Opy. Pegou o petygua, o cachimbo, e começou a "pitá", quer dizer, a fumá-lo. Ele desejava mudar seu jeito de ser. Pediu a Nhanderu, seu deus, que ficasse mais calmo, sem fazer mal a mais ninguém.
Todas as crianças presentes gostaram de seu jeito.
Certo dia, durante uma celebração, Verá quis dançar. Só que aconteceu o pior: Verá morreu subitamente, no meio da festa. Seus pais ficaram muito tristes, assim como as outras crianças e parentes.
No velório, todos cantaram a noite inteira. Houve um ritual e depois o enterro. Como o cemitério guarani fica dentro da aldeia, o menino foi enterrado ali mesmo, a sete palmos de fundura.
No dia seguinte, ninguém passou perto do cemitério. Por isso, pessoa alguma viu que o pé do menino estava saindo da terra. Apenas um índio curioso, que estava de passagem, reparou nisso. E saiu correndo para chamar o pajé.
Este disse que era preciso desenterrar o morto. Assim, todos se reuniram levando enxada, facão e outros instrumentos.
Todos trabalhavam bem rápido, preparando uma grande fogueira para que nela fosse atirado ojepota, quer dizer, o morto, antes que virasse um animal (conforme diz a tradição guarani).
De repente, o menino mexeu o pé. Todos ficaram de cabelos erguidos. A fogueira já estava acesa quando ele foi atirado nela. Ojepota gritou feito um ju'i (sapo) e pororó, ou seja, explodiu.
Finalmente ele morreu quando ojepota virou cinzas.
A Árvore que Falava
Autor: Jeguaká Mirim
Certa vez nasceu na aldeia uma árvore que falava. Diferente de todas as outras, ela sabia conversar com as crianças. Numa tarde de muito calor, pediu:
-- Kyringue (crianças), quero água.
Mas ninguém respondeu. As crianças não sabiam de onde vinha aquela fala. Todos olharam uns para os outros confusos.
Até que um dos "indinhos" percebeu que a voz vinha da árvore. O nome do menino era Verá. Ele se aproximou. Os outros foram embora, mas o Verá ficou ali. Depois foi buscar água, e disse para a árvore:
-- Árvore, é você quem está falando?
-- Sim, sou eu mesma.
Em seguida a árvore bebeu a água e agradeceu ao "indinho".
Verá e a árvore ficaram muito amigos. Ele lhe prometeu trazer água todos os dias. Combinou também que não contaria aos amigos sobre as conversas que tinham, porque ninguém ia mesmo acreditar.
Daquele dia em diante, a árvore passou a conhecer todos os segredos do menino. Em troca, ensinava-lhe sobre os poderes de cura das plantas.
Árvore e menino trocavam histórias diariamente. Verá lhe dava água e a árvore falante lhe oferecia sombra. Verá foi crescendo com muita sabedoria, enquanto que a árvore permanece em seu lugar, falando ao coração das crianças que conseguem ouvir sua voz secreta.