sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Escritores indígenas falam da importância da literatura nativa para a educação das crianças 12. 02. 2013 Literatura Olivio Jekupé contando histórias para crianças Por Carolina Cunha As crianças indígenas crescem ouvindo histórias contadas pelos velhos da aldeia. Escutá-las é parte fundamental de seu processo de educação. Essa cultura, que faz parte das raízes do povo brasileiro, também pode ser encontrada nos livros. O SaraivaConteúdo conversou com Daniel Munduruku e Olívio Jekupé, dois escritores que nasceram em aldeias e hoje escrevem literatura infantojuvenil de temática indígena, obras cada vez mais comuns nas livrarias e escolas. “Há uma mudança significativa no modo como o país vê seus povos ancestrais”, acredita Daniel, um dos principais escritores da literatura infantojuvenil do país. Nascido na Aldeia Maracanã (PA), ele já foi professor e contador de histórias. Estudou filosofia e hoje se empenha em preservar a cultura oral dos antepassados. Lua se esforça para entender a arte de fazer chover. Já Kabá Darebu aprendeu com os pais a olhar o voo dos pássaros para ver as notícias do céu. Os dois fazem parte da galeria de personagens de Daniel, inspirados nas histórias que aprendeu ainda garoto, com os pais e avós. “Me sinto como um educador que escreve. Costumo dizer que escrevo filosofia para crianças de todas as idades. Um adulto, se quiser ler meus livros, terá que fazer um exercício para ouvir suas vozes ancestrais. Isso as crianças fazem sem esforço”, diz o escritor. O elemento que costura grande parte das narrativas indígenas são os mitos, transmitidos desde tempos imemoriais. Para Daniel, essas histórias devem ser lidas com o coração e podem nos ajudar a compreender o mundo e a crescer de forma mais equilibrada. “O ser humano é formado por estes elementos que as histórias trazem: coragem e medo; amor e desamor; sofrimento e alegria. Somos forjados por sentimentos que se desdobram dentro da gente. Parte disso se dá por conta da construção dos mitos que carregamos conosco. Eles nos ajudam a compreender a nossa humanidade e a de outras pessoas”, diz o escritor. No caso da cultura indígena, as histórias mostram a força da natureza, a diversidade cultural, o respeito aos antepassados, a origem das coisas, os desafios de ser criança e tomar decisões. “Somos parte de uma teia que se inscreve dentro de cada pessoa. Somos PARTE, não donos. É isto que essa literatura que escrevemos traz de novidade: ela lembra que não podemos ser arrogantes, nos considerando o ápice da natureza. A educação só fará sentido se contribuir para que as crianças pensem uma forma nova de mantermos o planeta vivo. É isso que, de certa forma, os povos indígenas brasileiros continuam a nos ensinar”, diz o escritor. Ilustração do livro O Segredo da Chuva UMA ALDEIA GUARANI CHEIA DE HISTÓRIAS “Os índios comem seres humanos?”. A primeira vez que Olívio Jekupé escutou essa pergunta, ele ficou assustado. Percebeu que o preconceito e a falta de conhecimento das crianças sobre como os índios vivem ainda era muito grande. Morador da aldeia guarani Krukutu (SP), O escritor Olívio Jekupé já tem 13 títulos infantis publicados. Em sua comunidade, atua como educador e monitor de escolas visitantes. “A criança tem medo dos índios, e a literatura tem o poder de quebrar esse preconceito. Hoje nós somos poucos no Brasil. Somos apenas 500 mil. Pelos livros, ela vai entender mais da nossa cultura”, diz Olívio. Uma das obras de Jekupé é a Ajuda de Saci, na qual ele apresenta a lenda do protetor da floresta, que muitos não sabiam que veio dos guaranis. Em suas histórias, o escritor fala de mitos e de como muito da cultura brasileira – o chimarrão, o churrasco, o açaí, a farinha de mandioca, entre outros – veio dos primeiros habitantes do continente. Na aldeia Krukutu, as crianças são alfabetizadas em guarani e brincam o tempo todo. Desde pequenas, já aprendem a conviver com a natureza. Acender fogueira, pescar no rio, fazer armadilha, caçar. À noite, é comum os filhos irem para o Opy, a Casa de Reza. Nessa grande oca, existem os momentos de cânticos e cura, mas também de contação de histórias. “Nossos filhos sempre ouviram histórias. Só que antes, os livros eram os pajés. Graças aos antigos é que temos nossa história viva. Digo que o povo indígena sempre foi escritor, só que não sabia escrever. Hoje, a criança escuta, mas ela também lê”, diz Olívio. De tanto escutar histórias, o filho de Olívio, Jeguaká Mirim, decidiu seguir os caminhos do pai. Aos onze anos, ele acaba de escrever o seu primeiro livro. “Falo de um menino que viu a árvore falando sozinha, ele viu que a árvore estava com sede e foi trazer água. Ele tinha um pouco no copo, mas tomou tudo. E a árvore ficou muito triste”, diz o garoto, com dificuldade em se expressar em português. Assim como seu filho, Olívio acredita que as crianças sempre gostam de falar da natureza. “Elas gostam de bicho, da lua, do sol, das árvores. É dessa forma que a gente fala e enxerga o mundo. A vida da gente todo dia é uma história!”.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

terça-feira, 5 de junho de 2012Vida que Brinca e Informa Por Alcione Pauli e Maria Lúcia C. Rodrigues “Mais importante que as dores no corpo foi a liberdade que jamais tinha experimentado.” (Olívio Jekupé) Guerreiro da nação Guarani, Olívio Jekupé viajou pelo mundo e escreveu alguns livros. Escreve por acreditar que a tecnologia da escrita pode apresentar um olhar singular sobre os misteriosos povos indígenas. Ao apresentar “Tekoa conhecendo uma aldeia indígena”, Olívio nos convida a conhecer o mundo visto pelo povo guarani. Para fazer esta viagem o autor cria personagens fora da Tekoa e os insere lá no lugar no qual vivem os guaranis - conforme suas leis e costumes - para um mergulho silencioso e cuidadoso nos ritos e mitos que circulam nos alimentos, nos eventos e nas relações. Os personagens Eduardo e seu filho Carlos, Mirim e seu pai Tucumbó são os que fazem a informação aparecer. Carlos é um menino de São Paulo que passa um mês com o menino Mirim, filho do Cacique Tucumbó. Mirim apresenta tudo ao Carlos sem pressa. Passeia entre as bananeiras e os rios e vai ensinando coisas de seu povo. Sem querer ensinar revela os segredos que pode soltar. Carlos é envolvido pelo pio da Coruja e adormece entre os guaranis. Depois de um sono revigorante descobre o que é Tekoa, poi-poi, yvira nhex, petynguá, mboy, tokoiró... os dias passam e ao retornar para sua casa, em São Paulo, leva em sua memória a... “Saudade é uma distância que não se mede em quilômetros. Aquela gente tão igual e tão diferente. Um povo cuja cultura é tão antiga e cheia de sentidos.” (p. 27). Mais do que a informação por trás do enredo está a riqueza poética das imagens que o ilustrador Maurício Negro cria para o livro, que já em sua capa apresenta um emaranhado de signos mesclados nos tons terrosos. A viagem do menino não começa na palavra, o leitor sabe que há um deslocamento do personagem pelas marcas de pneus, atravessando as páginas e mapas. Negro constrói suas imagens com elementos naturais como: folhas, terra, palha, sementes que aliados à fotografia e ao grafismo, seja por tinta ou por desenho, juntam-se à técnica antiga do pirógrafo que, com sua ponta fina e incandescente, queima a madeira, tatuando-a definitivamente. Por que não dizer que as ilustrações da obra são uma salada de expressões plásticas que sintetizam a riqueza da cultura indígena brasileira? Cada página do livro traz uma novidade em termos de cores, traços e técnica empregada, tal qual é a novidade encontrada por Carlos - a cada dia passado na aldeia guarani. A plasticidade das ilustrações para a obra é latente; é um convite a nos deleitarmos com os minuciosos detalhes, com as formas e cores da natureza que invadem as páginas do livro. Assim é Tekoa: um texto com vida que brinca e informa. FICHA TÉCNICA: Obra: Tekoa conhecendo uma aldeia indígena Autor: Olívio Jekupé Ilustrador: Mauricio Negro Editora: Global  Postado por Prolij / Univille às 08:15 Marcadores: Alcione Pauli, Cultura Indígena, Maria Lúcia Rodrigues, Resenhas