segunda-feira, 27 de abril de 2009

QUANDO ME TORNEI ESCRITOR

POIS É MEUS AMIGOS, NASCI EM 1965, E DESDE CEDO GOSTEI DE LER, E DEPOIS QUE APRENDI A LER ME SENTI FELIZ AO LER POESIAS E LIVROS INFANTIL COMO LIVROS DO MONTEIRO LOBATO.
AOS 15 ANOS DE IDADE COMECEI A RABISCAR ALGUMAS COISAS, ESCREVENDO POESIAS E ALGUMAS IDÉIAS QUE SURGIA NA MINHA MENTE, E NISSO COMECEI A PENSAR QUE NÓS INDÍOS PODEMOS LUTAR MUITO EM DEFESA DE NOSSO POVO ATRAVÉS DA ESCRITA. SE OS JURUA KUERY- NÃO ÍNDIOS SE DEFENDEM ASSIM, NÓS TAMBÉM PODEMOS FAZER O MESMO. CONTINUEI ESCREVENDO, MAS POR SER NOVO AINDA NÃO ENTENDIA MUITO BEM AINDA MUITAS COISAS.
QUANDO FOI EM 1984, DESCOBRI ALGO, ACREDITEI DESCOBRI QUE EU NA VERDADE ERA UM ESCRITOR E A PARTIR DAÍ, COMECEI A ESCREVER ROMANCE E OFICIALIZEI DIZENDO A TODOS QUE SOU ESCRITOR, E NISSO TODAS AS VEZES QUE EU FALAVA COM ALGUÉM EU DIZIA ISSO, PRINCIPALMENTE QUANDO JÁ NESSA ÉPOCA ME CHAMAVAM PARA DAR PALESTRAS.
O TEMPO FOI PASSANDO E O GOSTO PELA ESCRITA SEMPRE AUMENTANDO E APROVEITAVA TUDO PARA MOSTRAR O QUE EU ESCREVIA, AS VEZES EM PEQUENOS JORNAIS QUE TIVE OPORTUNIDADE. SAÍ NO JORNAL- AVOZ DO POVO, CORNÉLIO PROCÓPIO, NA FOLHA DE LONDRIANA.
DEPÓIS MUDEI PARA CURITIBA E PUDE PARTICIPAR DA FEIRA DO POETA, LÁ PUDE MOSTRAR MINHAS POESIAS PARA OUTROS POETAS E NAS PALESTRAS QUE FIZ E OUTROS PEQUENOS JORNAIS. UM DIA DEI UMA ENTREVISTA NO JONAL NICOLAU DE CURITIBA, ELE SAIA JUNTO NA GAZETA DO POVO E LÁ SAIU UMA POESIA MINHA QUE FICOU MUITO LINDA E ESSA POESIA CHEGOU ATÉ UMA MULHER QUE SE CHAMA GRAÇA GRAÚNA NO NORDESTE, ELE TEM ESSA MATÉRIA ATÉ HOJE E DIZ QUE É MINHA FÃ DESDE AQEUELS TEMPOS- 1988.
COM O PASSAR DO TEMPO CONSEGUI PUBLICAR MEU PRIMEIRO LIVRO, UMA PUBLICAÇÃO INDEPENDENTE, O TÍTULO- LEÓPOLIS INESQUECÍVEL- 1993, OUTRA PUBLICAÇÃO INDEPENDENTE, JÁ EM LONDRINA, 500 ANOS DE ANGUSTIA,1999.
NESSA ÉPOCA COMECEI A VENDER MEUS LIVROS PARA OS AMIGOS QUE VINA NA ALDEIA.
AGORA JÁ TENHO OUTROS LIVROS, COM EDITORAS CONHECIDAS, COMO UEL, PEIRÓPOLIS, EVOLUIR, DCL, E UMA COLETANEA PUBLICADA NA ITÁLIA.
SEI QUE MINHA VIDA DE ESCRITOR FOI DIFÍCIL, MAS PRAZEROSA, E CONTINUAREI ESCREVENDO LITERATURA INDIGENA PORQUE ACREDITO QUE ELA AJUDARÁ AOS INDÍGENAS E NÃO INDÍGENAS.
OBRIGADO POR AQUELES QUE JÁ LERAM MEUS LIVROS E SEMPRE DIZENDO QUE ESCREVO MUITO BEM, AGORA VOCE QUE JÁ LEU ALGO MOSTRE PARA OUTROS.

OLIVIO JEKUPÉ- ESCRITOR E POETA- CONTOS E ROMANCE.
oliviojekupe@yahoo.com.br

quarta-feira, 1 de abril de 2009

REPORTAGEM - REVISTA ÉPOCA - SP

Caminho das índias

POR JEANNE CALLEGARI

Os guaranis que vivem na reserva de Parelheiros viraram atração. Agências de turismo ecológico guiam cada vez mais estrangeiros e paulistanos às duas aldeias


MAMÃE CORAGEM
A índia guarani Fernanda da Silva, de 18 anos, na estrada que leva
ao centro da aldeia Krukutu

Nada de curry, ensinamentos budistas, vacas sagradas ou enredos bollywoodianos. A pacata vida das índias guaranis que moram em áreas de proteção ambiental no extremo sul do município de São Paulo não tem nada a ver com a novela das 8 que faz sucesso na TV Globo e é ambientada na Índia.

Ainda assim, a “audiência” do cotidiano das indígenas está em alta. Ir até as aldeias virou uma inusitada atração turística, fazendo florescer na região um polo de ecoturismo sustentável.

A aldeia Tenondé-Porã tem 800 moradores, e a Krukutu tem 230. Ambas ficam às margens da Represa Billings, dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) de Capivari-Monos, a aproximadamente 40 quilômetros do Centro. Quem chega lá até esquece que ainda está dentro dos limites do município de São Paulo – a densa Mata Atlântica, a rica fauna e os rios de água pura mais parecem uma paisagem da Amazônia. Para quem quiser embarcar nessa aventura, é recomendável ligar (5977-3689 ou 5977-0025) e agendar uma visita com antecedência: os índios preferem assim.

Quem quiser pode ir por conta própria, de ônibus urbano a partir do Terminal de Parelheiros, mas algumas agências organizam visitas guiadas à área. A Trip on Jeep, por exemplo, cobra R$ 195 pelo tour de oito horas, incluindo transporte e almoço. A próxima excursão está marcada para 21 de março. “Nossos clientes são gente que vive aqui mesmo, na capital, mas que sempre imaginou que só teria contato com tribos nativas em lugares distantes. Também levamos pessoas de outras cidades e até mesmo de outros países, que vêm a São Paulo e querem conhecer nossas belezas naturais”, diz Magna Carvalho, dona da agência.


Segundo a Aecotur (Associação dos Empreendedores de Ecoturismo da APA Capivari-Monos), a região atraiu 120 mil visitantes em 2008, mas em breve esse número pode saltar para 250 mil pessoas.

“Essa ainda não é uma modalidade de turismo que tem a cara de São Paulo. Nossas reservas ambientais ainda estão fora do circuito compras-negócios-eventos, que é o que traz a maioria esmagadora dos visitantes à cidade”, diz Leandro Caetano, gestor da APA Capivari-Monos na Secretaria do Verde e do Meio Ambiente (SVMA). “Mas estamos trabalhando para mudar isso.”


A visita às aldeias é parte de um projeto de ecoturismo para a região das APAs que envolve também trilhas e visitas à Cratera de Colônia, à Reserva Particular de Patrimônio Natural Curucutu, à estação ferroviária Evangelista de Souza e a parte das bacias hidrográficas das represas Billings e Guarapiranga. “Como a área é de preservação, a melhor alternativa para gerar renda, sem gerar impacto no meio ambiente, é o ecoturismo”, diz Luís Rogério Muniz, gerente da região no Sebrae. Para fomentar esse negócio, o Sebrae lança este mês, em parceria com a SPTuris e com a SVMA, um catálogo com as atrações turísticas do local.

O turista que chega à Krukutu depara com uma construção redonda, alta, com azulejos de motivos indígenas. Pendurada nela, uma faixa em português e em guarani dá as boas-vindas ao visitante. É a casa de apresentações, onde os índios mostram sua dança e seu canto aos turistas. Nessas ocasiões, eles vestem uma indumentária especial, de festa, com colares e penas. À parte isso e as festas da aldeia, as roupas usadas por eles são as mesmas dos brancos: saias, calças, camisetas. Uma ou outra camisa de time de futebol sobressai.


SINAIS DE FUMAÇA
O karaí Nilson Werá fuma seu cachimbo petygua na aldeia Krukutu. À vontade com a presença dos visitantes, as crianças brincam com um celular ou se refrescam na Billings


MADE IN KRUKUTU
Maria Benite Oliveira, de 22 anos, e um dos cestos de bambu
trançados pelas índias da aldeia

O coral é presidido pelo cacique, Karaí de Oliveira. É ele o responsável por regular as relações sociais entre os índios e por falar com o homem branco. Também é ele que autoriza – ou não – os casamentos no local. “O cacique não ganha nenhum salário. Eu quis ser não para ganhar benefícios, mas para ajudar a comunidade”, diz Karaí. Aos 24 anos, ele parece muito jovem para comandar as 40 famílias da aldeia. Mas a comunidade o aceitou como líder.

A maior briga do cacique é para ampliar as terras da aldeia. Nos 25 hectares da Krukutu, o espaço é pequeno para plantar e caçar. “Poderíamos derrubar a mata que sobra, mas não seria suficiente para alimentar as famílias e perderíamos algo que muito prezamos: o contato com a natureza”, diz Olívio Jekupé, presidente da Associação Guarani Nhe’em Porã. Para que os índios não precisem sair da aldeia para trabalhar, a associação construiu uma loja para vender artesanato aos turistas e lutou para que empregos fossem criados no próprio local. Na lojinha, há colares, pulseiras, arcos, flechas, cestos de bambu, cuias, cocares, bonecas e bichos de madeira. Tudo feito por eles.

Para complementar a renda, as escolas locais e o posto de saúde empregam assistentes e monitores que moram na aldeia. Os índios também contam com programas governamentais, como o Bolsa Família e o auxílio-maternidade. Por causa desse último, a maioria das pessoas que tem registro civil na aldeia é de mulheres. “É uma burocracia para tirar os documentos dos adultos. Tem que ir à cidade várias vezes, levar testemunhas. Demora um ano pra conseguir”, diz Olívio, que tem quatro filhos registrados e com todos os documentos “dos brancos”.


Além de presidente da associação, Olívio é escritor. Já publicou sete livros, entre eles Ajuda do Saci (Editora DCL), uma obra de literatura infanto-juvenil sobre o kamba’i, ou saci, um mito originalmente indígena. A filha dele, Kerexu Mirim, de 14 anos, também já escreveu um livro. A Índia Voadora (edição independente) é sobre a realização de seu sonho de voar, ao passear de helicóptero com a prefeita Marta Suplicy, em 2003. “A princípio, escola não é coisa de índio, escrever não é coisa de índio. Mas as armas do branco acabaram se tornando nossa defesa, e a gente as usa para manter nossa cultura”, diz Olívio.

Com a criação da associação, em 2001, muitas armas do juruá, o homem branco, foram chegando à aldeia. Primeiro, foi o orelhão. Depois, um posto de saúde. Hoje há ainda duas escolas, lojinha para artesanatos e uma sede para a associação. Muitos vistantes se espantam com a presença de telefones celulares, mas isso não significa que os guaranis se tornaram aculturados. “Eles usam nossa tecnologia para manter a cultura deles”, diz o antropólogo Moreno Saraiva Martins, que fez sua tese de mestrado sobre os guaranis. Assim, a internet é usada para divulgar visitas à aldeia para as escolas, por meio do site da associação (www.culturaguarani.
com.br); o site de relacionamentos Orkut, para encontrar gente de outras aldeias; o carro, para ir visitar os parentes em outras cidades. “A gente recebe crítica de todo lado. Se o índio é atrasado, é primitivo; se é avançado, deixou de ser índio”, diz Olívio.

No coração da aldeia, fica o Centro de Educação e Cultura Indígena (CECI), frequentado por crianças de até 6 anos. As aulas são em guarani, e os professores, da própria aldeia. “Ensinamos coisas sobre nossa religião e cultura, como artesanato e as épocas de plantio
tradicionais”, diz o coordenador Marcos Tupã. Lá, os pequenos aprendem que há dois ciclos na natureza: o tempo velho, que corresponde ao outono e ao inverno, e o tempo novo, equivalente ao verão e à primavera. No tempo novo, tudo nasce, a floresta se renova. É a época das colheitas e do batismo das crianças.

As crianças aprendem sobre Nhanderu, o deus guarani, criador de todas as coisas. Descobrem por que é que tantos guaranis moram próximos ao litoral: é que depois do mar encontra-se a Terra Perfeita, um “lugar privilegiado, indestrutível, em que a terra produz por si mesma os seus frutos e não há morte”, como escreveu a antropóloga Hélène Clastres, no livro Terra sem Mal (Editora Brasiliense). É possível chegar a essa terra ainda em vida, pois o objetivo da religião é que as pessoas se tornem semelhantes aos deuses, imortais como eles; mas só quem está preparado consegue.


ESTUDO
Na escola de educação infantil, os índios são professores e as aulas são em guarani

Por falar em escola, muitos estudantes da capital visitam as aldeias e aproveitam para aprender muita coisa por lá. Segundo Júlia Masson, de 42 anos, coordenadora pedagógica do Colégio Integrado Diadema, lá seus alunos deixam de lado os preconceitos em relação ao índio. “As crianças só ouvem falar dos indígenas no Dia do Índio ou em documentários da TV. Vê-los ao vivo é extremamente enriquecedor”, diz. “O bacana de ir às aldeias é que é uma ótima oportunidade de conhecer uma cultura que não é a sua, uma vivência que não é a nossa. É fascinante poder observar meninos e meninas de culturas diferentes, que não falam a mesma língua, brincando juntos. Os alunos vão pela curiosidade, para ver o diferente, mas voltam cheios de novos conhecimentos e respeitando muito mais a cultura do índio.”

Na escola, alguns dos convidados para ensinar as tradições são os líderes espirituais, chamados de karaí opygua. Os brancos insistem em chamá-los de pajés, mas os karaí não gostam muito. Também responsáveis pelas curas e pelas cerimônias culturais, os karaí opygua ensinam as crianças sobre as criaturas e as ervas da floresta. “Para ser karaí, a pessoa tem que ter o coração forte”, explica o sábio Nilson Werá Mirim, de apenas 28 anos. Não é missão para qualquer um. Os guaranis acreditam que cada pessoa tem um dom. O dos karaí é revelado a eles em sonhos, pelo próprio deus. “Faz 12 anos que Deus me iluminou”, diz o karaí Laurindo Veríssimo, de 59 anos. O velho xamã está sempre disponível: vai aonde precisam dele para rezar, para curar. Hoje em dia, tem até branco que vai à aldeia se consultar com ele.


“Quando visitei a aldeia, fiquei impressionado com o pajé. Ele mostrou como lida com as ervas, e achei interessante a vida que eles levam, ligada à natureza”, conta Antonio Fernandes, administrador de empresas de 39 anos. “A abundância de plantas disponíveis é marcante: eles têm remédio para tudo que é coisa lá. Antigamente, não tínhamos farmácia. A farmácia era o quintal da avó, com suas plantas e ervas.”

Os guaranis têm muito orgulho de sua religião. Todos os dias, Márcia Poty, de 37 anos, vai à Casa de Reza, uma construção de taipa em que o karaí lidera os trabalhos. As pessoas começam a chegar no pôr-do-sol. Ali dentro, reina a fumaça do petygua, um cachimbo que todos “pitam”. O pajé fuma até passar mal, até limpar o espírito. Ali, ele também realiza curas e prescreve ervas para tratar quem está doente.

Mas às vezes a doença não é espiritual, é algum mal que o branco trouxe. Nesse caso, o xamã encaminha a pessoa para o posto de saúde, que tem dentista e médicos à disposição. “Eu respeito a cultura deles e eles me respeitam”, diz a médica Paula Aragão, que atende há dois anos nas aldeias Krukutu e Tenondé-Porã. Ali, no postinho que a associação conseguiu instalar, ela atende crianças como Bianca, de 2 anos, e Serena, de 6. As duas são irmãs e estão ali para fazer inalação. Bianca tem asma, precisa ir sempre. Serena tem broncoespasmo. As duas são filhas de Brisa da Silva Santos, de 26 anos, mãe de 6 filhos. Como muitos guaranis, Brisa nasceu em outra aldeia (a Araponga, em Parati). Veio visitar a irmã e acabou ficando.


PARAÍSO GUARANI
Representantes de quatro gerações de indígenas diante da Represa Billings e do campo de futebol da aldeia Krukutu

Os guaranis se mudam muito, de uma aldeia para outra, sempre em visita aos parentes. Eles não são nômades: têm residência fixa e podem ficar em uma aldeia por décadas. Normalmente, quem muda são os homens. Eles saem da aldeia para se casar e agregam-se à família da esposa.

Como vão menos à cidade, as mulheres têm pouco contato com o homem branco. Não é regra, mas costuma ser função do homem dialogar com visitantes. Assim, nem todas falam português. E as que falam não têm fluência e são quietas. Os homens, mesmo os que falam bem o português, costumam ser caladões, lacônicos. “Para os guaranis, a palavra é sagrada. Eles não a usam em vão”, diz o antropólogo Moreno.

A dificuldade de comunicação não impede, no entanto, que ao final de um dia de trabalho muitos assistam à TV e alguns, por coincidência, acompanhem a novela citada no início do texto. “Vamos dormir assim que termina a novela Caminho das Índias”, conta Kerexu de Oliveira, de 17 anos. Assim, as rocambolescas desventuras amorosas e os ensinamentos místicos do folhetim de Glória Perez podem não ter nada a ver com a vida das jovens guaranis, mas certamente povoam os sonhos e o imaginário dessas moças.